A transferência de um único embrião
tem sido proposta como uma estratégia para reduzir o risco de
nascimentos múltiplos e os resultados adversos da gravidez, após a
fertilização in vitro (FIV)
Um estudo britânico, publicado na versão on line do The Lancet - Effect
of age on decisions about the numbers of embryos to transfer in
assisted conception: a prospective study - revela que o número de
nascidos vivos não aumenta com a transferência de mais de dois embriões,
mas os riscos associados à esta prática, sim, como risco de nascimento
prematuro extremo (com menos de 33 semanas).
Para chegar a estas conclusões, pesquisadores britânicos analisaram
dados de 124,148 ciclos de fertilização in vitro que resultaram em
33,514 nascimentos. E compararam as taxas de sucesso, isto é, os
nascimentos de fetos vivos (livebirths), e os eventos negativos, como os
nascimentos de múltiplos, a ocorrência de baixo peso e a prematuridade
nos procedimentos em mulheres de até 40 anos e com mais de 40.
A transferência de dois embriões resultou em mais nascidos vivos do que
a transferência de um único embrião. E de maneira mais marcante, nas
mulheres com mais de 40 anos. Nas mulheres com menos de 40 anos, a
transferência de três embriões provocou uma menor taxa de nascidos vivos
do que a transferência de dois embriões. E, nas mulheres com mais
idade, a transferência de três embriões, ao invés de dois, não fez
nenhuma diferença.
Diante de tais resultados, os pesquisadores ressaltam que a
transferência de três ou mais embriões, em qualquer faixa etária, no
entanto, está associada com um risco significativamente maior de
complicações, incluindo o nascimento prematuro e baixo peso ao nascer. A
decisão de transferir um ou dois embriões deve ser baseada em
indicadores de prognóstico, como a idade materna.
Scott M. Nelson, um dos autores do estudo e presidente de obstetrícia
da Universidade de Glasgow, disse que os Estados Unidos é um dos poucos
países em que mais de dois embriões ainda podem ser rotineiramente
transferidos. Cerca de 40% das fertilizações in vitro nos Estados Unidos
envolvem a transferência de três ou mais embriões, e mais de 20% das
gravidezes resultantes de FIV terminam em nascimentos múltiplos.
No Brasil, segundo estimativas do Registro Latino-Americano de
Reproducción Asistida, 42% das gestações por fertilização in vitro
resultam em gêmeos, trigêmeos, quadrigêmeos e quíntuplos. A Resolução
CFM Nº 1.957/2010, que normatiza os procedimentos em reprodução humana
assistida no país, determinou uma diminuição do número de embriões que
podem ser utilizados em cada tentativa de fertilização.
“Antes, as clínicas de reprodução humana assistida podiam implantar até
quatro embriões no útero de uma mesma paciente. Com a nova
determinação, esse limite cai para dois, no caso das mulheres com até 35
anos de idade; e três, para aquelas que têm entre 36 e 39 anos.
Mulheres com mais de 40 anos mantêm o direito de receber quatro
embriões”, explica o ginecologista Jonathas Borges Soares, diretor do
Projeto ALFA, Aliança de Laboratórios de Fertilização Assistida.
Na Europa, os serviços de reprodução humana estão empenhados em reduzir
o índice de gravidez múltipla. No registro europeu já se verificou uma
redução no número de embriões transferidos no período de 1999 para 2000.
A transferência de quatro embriões diminuiu de 9,3% para 6,8% e de três
embriões de 39,6% para 33,3%, enquanto aumentou o número de
transferências com dois embriões, de 39,2% para 46,7%. Na Inglaterra, é
proibido colocar mais de três embriões em mulheres acima dos 40 anos. Na
Suécia e na Bélgica, transfere-se um único embrião por ciclo para
reduzir as gestações múltiplas.
A perspectiva dos pacientes
“O estudo britânico não traz notícias fáceis de serem digeridas pelos
casais que estão tentando engravidar. Geralmente, a FIV é uma
experiência que implica em muitos investimentos: emocionais e
financeiros. É natural que os casais desejem aumentar as ‘possibilidades
de sucesso’, transferindo mais embriões viáveis. Mas, as conclusões do
estudo são claras: três embriões aumentam os riscos e não as chances de
sucesso do procedimento. Para pacientes ansiosos, este é um conselho
que é mais fácil de ser dado do que seguido... Precisamos dialogar muito
com os pacientes sobre esta decisão”, afirma Jonathas Soares.
Embora o nascimento de um bebê por meio das técnicas de reprodução
humana assistida ainda leve consigo o risco de uma gestação múltipla,
cabe à Medicina aprimorar os métodos de cultivo de embriões e a sua
transferência para o útero, o que permitirá otimizar as chances de
nascimentos, sem que ocorra a gestação múltipla.
Neste sentido, o diretor do Projeto ALFA, enumera alguns desafios que
ainda precisam ser vencidos: “precisamos desenvolver mais pesquisas
sobre as condições ideais de transferência do embrião, sobre a
sobrevivência intra-útero e sobre a nidação (fixação do embrião no
útero). Ainda neste sentido, necessário aprimorar os protocolos de
congelamento e descongelamento de gametas e embriões, pois estas
técnicas podem colaborar com a redução da gestação múltipla”, observa
Jonathas Soares.
CONTATO:
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