Um
recente concurso norte-americano com mulheres desfilando de biquíni
chamou atenção do público, não pelos trajes e sim pelas mulheres,
grávidas. Curiosamente, as imagens chegam à mídia 40 anos depois da
icônica fotografia de Leila Diniz tirada na praia de Ipanema. E levantam
a mesma questão: grávidas podem ser sensuais?


De 20 em 20 anos: Leila na praia em 1971, Demi na capa em 1991 e candidata do concurso realizado na semana passada
Segundo
a doutora em psicologia pela USP Walkiria Grant, a resposta é um
simples sim. Mulheres grávidas, explica Walkiria, não devem esquecer
que, antes de mães, são mulheres. Na opinião da educadora sexual Andreia
Berté, uma mulher grávida se sente sexy a partir do momento em que está
à vontade com o seu corpo.
Foi
o caso das competidoras do concurso norte-americano. Além de desfilar
de biquíni, elas fizeram poses e dancinhas para conquistar os jurados.
Algumas chegaram, até mesmo, a mostrar uma invejável abertura zero. “É
uma forma legal de mostrar que, apesar de estarem grávidas, estão se
curtindo e se sentindo lindas”, opina Andreia.
Para
participar do concurso, organizado por uma rádio de Houston, Texas, nos
Estados Unidos, as grávidas precisam estar a três meses da data
prevista para o parto. Com a barriga deste tamanho, elas já são vistas
como mães, o que cria um ponto polêmico de associação entre maternidade e
sensualidade. “Estamos em um campo perigoso”, comenta Walkiria. “Aqui a
maternidade é vista quase como sagrada. Os casais que se deixam
influenciar por essa visão antiquada sentem o reflexo na parte sexual do
relacionamento”, comenta Andreia.
Com
relação ao corpo, um dos principais fatores para certo constrangimento
por parte das mulheres, a antropóloga Mirian Goldeberg bate na tecla da
liberdade. “As mulheres devem ser livres com o seu corpo, com ou sem
barriga. Com ou sem estria e com ou sem juventude”, afirma. “A mensagem
importante para a mulher se fazer desejável para o homem vai além do
corpo”, completa Walkiria.
Legado de Leila Diniz
Para
Mirian Goldenberg tanto o concurso quanto a foto de Leila Diniz apontam
para a liberdade de se mostrar a gravidez. A antropóloga, autora do
livro “Toda Mulher é Meio Leila Diniz” (Editora BestBolso), relembra da
invisibilidade imposta às grávidas há menos de 50 anos. “A
gravidez era tida como algo que deveria ser completamente escondido por
baixo de roupas largas. A mulher grávida era completamente invisível e
tinha de ficar em casa. Quando saía, devia deixar a gravidez invisível”, diz Mirian.
A
liberdade de se mostrar a barriga de grávida, explica Mirian, é a mesma
de não se fechar em apenas um rótulo, seja ele o de “mãe” ou de “mulher
sexy”. “O papel feminino não pode ser restrito a um só”, termina a
antropóloga.
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