domingo, 18 de setembro de 2011

Leite materno turbina o QI do bebê

Notícia velha, mas interessante (publicado em 2007)
Segundo um novo estudo, a criança amamentada possui uma variante gênica que ajuda a processar os ácidos graxos
por Nikhil Swaminathan


Mamar para aumentar o Q.I.: O quociente de inteligência dos bebês com uma variante gênica que quebra ácidos graxos poder aumentar quando a criança recebe leite materno.
A inteligência é inata ou influenciada pelo ambiente? Essa discussão está em pauta há mais de um século. Uma das questões mais recentes na batalha entre natureza x criação está o efeito do leite materno sobre o QI.

Pesquisas demonstraram que os ácidos graxos no leite humano podem influenciar o desenvolvimento cerebral. Utilizando esses dados como ponto de partida, um grupo de cientistas liderado por uma equipe do Instituto de Psiquiatria do King´s College London resolveu investigar como a constituição das crianças interage com o leite materno a ponto de afetar sua inteligência.

Os resultados, publicados no Proceedings of the National Academy of Science USA, revelam que o aleitamento materno pode turbinar o quociente de inteligência de um bebê se o recém-nascido possui uma versão específica de um gene, o FADS2 (sigla em inglês para desaturase 2 de ácido graxo), que afeta o processamento dos ácidos graxos.


“Estávamos em busca de um exemplo empírico para mostrar aos cientistas que é possível usar o ambiente como ferramenta para descobrir novos genes com efeitos importantes, incluindo doenças”, explica o co-autor do estudo Terrie Moffitt, professor de psiquiatria do King\\'s College. “Nossa seqüência lógica do ambiente ao marcador genético nos permitiu descobrir pela primeira vez a ligação entre o gene FADS2 e o QI, importante para a saúde da criança.”

O marcador genético a que Moffitt se refere está localizado no gene FADS2, que por sua vez apresenta duas variantes primárias. O novo estudo, que contou com 1.000 crianças neozelandesas na década de 70 (parte delas recebeu leite materno) e mais de duas mil crianças amamentadas que moravam no Reino Unido na metade da década de 90, revelou que 90% das participantes tinham pelo menos uma cópia da versão mais comum do FADS2, enquanto que 50% delas possuíam duas cópias.

Os pesquisadores descobriram que as crianças que receberam leite materno e possuíam pelo menos uma variante genética ou mais, tinham uma média de seis a sete pontos a mais no QI que aquelas que não foram amamentadas, mas tinham constituição genética similar. No entanto, o aleitamento materno não pareceu afetar as crianças (10% da população) que tinham apenas a variante menos comum. Os cientistas descartaram outros fatores, incluindo peso ao nascer e a classe social e Q.I. da mãe, pois descobriram estes que não influenciavam os resultados.

“As crianças amamentadas obtiveram uma pontuação em média 3 pontos mais alta que a população no teste de Q.I., enquanto que aquelas que não receberam leite materno ficaram com 3 pontos a menos”, explica Moffitt. Em outras palavras, o aleitamento materno levou ao ganho de alguns pontos no Q.I..

Quanto às implicações do estudo no debate natureza x criação, Linda Gottfredson, professora de educação na University of Delaware, afirma que “não se trata de natureza ou criação, mas dos genes podem tornar as pessoas mais ou menos suscetíveis a certas condições do ambiente”. 


Portanto, a ausência de leite materno na alimentação de bebês com uma certa predisposição genética pode ter efeitos negativos para a inteligência. O mecanismo exato pelo qual a enzima codificada pelo FADS2 pode influenciar o Q.I. é desconhecido, mas Moffitt sugere duas alternativas.

A primeira é a de que as variantes gênicas podem afetar a conversão de precursores alimentares para ácidos graxo poliinsaturados de cadeia longa, que se agregam no cérebro nos primeiros meses de vida da criança. 

A segunda implica que os ácidos graxo poliinsaturados de cadeia longa podem agir ou não sobre o gene propriamente dito, fazendo com que ele se ligue ou desligue, e assim afetando o percurso metabólico usado pelos ácidos. Os autores ressaltam que, desde a época em que os participantes do estudo foram amamentados, vários fabricantes de leite para recém-nascidos começaram a adicionar suplementos de ácidos graxos aos produtos, potencialmente na tentativa de elevar o QI dos bebês. 

“O problema desse estudo é que não sabemos exatamente quais são os mecanismos que o leite materno usa para aumentar o QI”, afirma Joseph Hibbeln, pesquisador clínico da Unidade de Nutrição em Psiquiatria do National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism. “O estudo ajuda a apontar apenas um dos mecanismos, ou seja: se seu organismo não consegue produzir ácidos graxos de maneira eficiente, é melhor beber leite materno para dar uma força para seu QI.”
 

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